Exatamente no dia que completei 35 semanas perdi (o que hoje
tenho certeza de que era) parte do tampão. Como não saiu com traços de sangue,
fiquei confusa mas como após a perda do tampão o trabalho de parto pode demorar
semanas para começar, nem dei muita importância ao acontecido.
Na manhã do dia dos pais, às 36 semanas, surgiram umas
cólicas que iam e voltavam. Mesmo não acreditando ser trabalho de parto,
ligamos para a GO que recomendou Buscopam e banho morno o que fez com que as
dores se fossem. Na segunda-feira, fiz exame de urina que descartou infecção.
Sem dores e sem infecção, segui rotina normal acreditando que a gestação
passaria tranquilamente das 40 semanas.
Na quinta-feira saí mais cedo do trabalho para ir à consulta
pré-natal acreditando que na manhã seguinte estaria de volta à labuta. Aham...
No exame de toque, a surpresa: 2-3 cm de dilatação e colo
finíssimo. Então seria assim? Samuel chegaria às 36 semanas? O tão sonhado PD
ficaria para a próxima? Com a orientação de não mais voltar ao trabalho, saí do
consultório disposta a repousar na tentativa de chegar às 37 semanas o que
aconteceria na sexta (pelos meus cálculos) ou sábado (pela ultra).
No táxi de volta para casa, liguei para contar as novidades
ao marido. Pobre taxista carregando a gestante-bomba-relógio-prestes a parir...
Não tive coragem de olhar para ele mas, pela velocidade com que passou a
dirigir, imagino que não tenha ficado muito confortável com a situação... rs.
Domingo à noite as conhecidas cólicas voltaram. Digo cólicas
porque era exatamente assim que elas se apresentavam, sentia a dor mas não
sentia a barriga endurecer. Tomei Buscopam e nada das dores passarem. Assim,
liguei para a doula que me aconselhou um banho bem demorado, “sem pensar na
água do planeta”, e voltar a entrar em contato. Como as dores praticamente sumiram, troquei
mensagens com a doula e me entreguei ao sono.
Passado algum tempo (uma ou duas horas, imagino), as dores
foram voltando mas pela pouca intensidade e irregularidade, não achei que
tivessem “cara de trabalho de parto”.
Tomei alguns banhos longos durante a noite, mudava de posição na cama,
concentrava na respiração... Em alguns momentos tentei cronometrar as dores mas
quando elas espaçavam ainda mais, eu acabava dormindo e me perdia nas
contagens.
Ao amanhecer, liguei para a doula e combinamos que eu iria
contar as cólicas na próxima meia hora e retornar à ela. Passado esse tempo,
ela ligou e avisou que estava a caminho da nossa casa. Por ser segunda-feira de
manhã, ela pegou bastante trânsito e nesse tempo as dores se foram
completamente.
Quando a doula e a fotógrafa chegaram, uma seguida da outra,
só conseguia pensar que havia feito as duas pegarem estrada em vão. Enquanto
Henrique recebia as duas eu mentalizava “voltem dores, voltem dores” e aos
poucos elas foram voltando.
Como a parteira estava acompanhando outro parto em São Paulo
e na quinta-feira meu colo já apresentava dilatação, foi preciso que a doula me
examinasse para saber em qual estágio eu realmente estava.
7-8 cm de dilatação! Uau! Já havia chegado tão longe de
forma bem mais tranquila do que eu havia imaginado! Não me aguentava de alegria
por perceber que tudo estava indo tão rápido e dentro do controle.
Um pouco mais tarde chegaram a neonatologista e a parteira
que confirmou: 8 cm!

Aos poucos as dores se espaçaram muito e a doula
sugeriu que aproveitássemos o momento para descansar. Escurecemos o quarto e
dormimos os dois. Quando em um parto convencional eu teria esse tempo
respeitado? Coisas que só uma equipe humanizada faz por você J
Depois de um período de descanso, a ansiedade começou a
aparecer e resolvi que iria fazer meu filho nascer. Caminhava pelo corredor,
sentava na banqueta de cócoras, cheirava essência de sálvia e aos poucos as
dores ressurgiram.
Fui novamente examinada e continuava com os 8 cm de dilatação.
Confesso que nessa hora me desanimei um pouco, o cansaço emocional começava a
aparecer.
Já não encontrava posições confortáveis e a pressão sobre a
minha bexiga era muito forte o que fazia com que eu urinasse sem parar.
Enquanto eu comia uns enroladinhos, veio uma contração muito
forte que fez com que eu vomitasse tudo o que eu havia ingerido durante o dia.
Estranhamente, parece que era daquilo que eu precisava, me senti bem melhor.
Pedi para ser novamente examinada e mais uma vez os benditos
8 cm. Como a bolsa não havia se rompido, a cabecinha do bebê não fazia pressão
suficiente no colo do útero para que ele pudesse dilatar os 10 cm.
Além disso,
como as contrações não vinham na intensidade e regularidade esperadas, faltava
o motor para que o parto acontecesse.
Pedi alternativas que pudessem ajudar e decidimos que eu
iria inalar um pouco de ocitocina. Enquanto a doula cronometrava as contrações,
a parteira calculava a frequência da ocitocina e eu fazia força no auge das
contrações para aliviar a dor e ajudar Samuel em seu caminho.
As coisas finalmente pareciam estar evoluindo. Sentei na
banqueta e enquanto vinha a contração, a parteira conseguiu empurrar a borda de
colo que impedia o bebê de descer. Deu certo!
A partir daí, senti a pressão aumentar muito no períneo e a
bolsa enfim rompeu. Segundo me contaram, foi nessa hora que os puxos finalmente
vieram mas, na verdade, até hoje me pergunto se realmente os tive.
Lembro da parteira chamando a neonatologista “Anaaaaa, a
cabeça tá coroando” . Lembro de Henrique sentado na ponta da cama, me apoiando
por trás e me incentivando. Lembro da doula segurando o espelho para que
víssemos a cabeça do bebê. Lembro da parteira falando para que eu colocasse a
mão e sentisse Samuel saindo aos poucos. E lembro de fechar os olhos para o
mundo e mergulhar em mim mesma, enquanto senti a cabeça do meu filho saindo e pouco tempo depois seu corpinho escorregando para fora de mim. Samuel
nasceu às 22:24 horas do dia 19 de agosto, no aconchego do nosso lar.

Impossível descrever o momento, impossível.
Fui ajudada a levantar-me da banqueta e fomos deixados a
sós: eu, Henrique e Samuel.
Depois de um tempo, a parteira voltou com a neonatologista e
Henrique cortou o cordão que nesse momento já havia parado de pulsar.
A saída da placenta era um dos maiores medos que eu tinha e
foi super tranquila.
Enquanto eu era examinada pela parteira, a neonatologista
examinou e vestiu Samuel que logo voltou para os meus braços.
Já era de madrugada quando a equipe foi embora e ficamos os
três nos namorando até pegarmos no sono.
Por um tempo do pós parto, tive o sentimento de que meu corpo
não havia funcionado dentro da normalidade esperada. Não tive contrações
ritmadas o que me impediu de entrar na tão sonhada piscininha, não dilatei naturalmente
até os 10 cm e acho que não tive puxos.
Provavelmente tudo isso foi pela minha dificuldade em perder
o controle do que acontecia ao meu redor. Só consegui me entregar completamente
quando a dor foi tão grande que me incapacitou de racionalizar os
acontecimentos. Sou grata à essa dor por me mostrar que a maternidade, desde o
parto, exige entrega completa.
Agradeço a Deus, autor de nossas vidas, a quem louvo pela
dádiva de ser mãe. A Ele seja toda honra e glória.
Agradeço a Henrique, meu marido amado, por ter participado
da escolha do PD e por me surpreender com seu companheirismo. Não teríamos
conseguido sem sua força. Samuel e eu nos orgulhamos muito de você.
Agradeço à Dra. Mariana Simões por sua competência, doçura e
sensibilidade. Obrigada por me ajudar a enfrentar meus medos durante o pré-natal.
Agradeço à Dorothe pela presença forte e carinhosa, pela mão
amiga, pelas compressas quentes e pelas palavras confortantes. Toda parturiente
merece uma doula como você!
Agradeço à Ana Cris, parteira querida, por saber reconhecer
o momento de deixar o trabalho de parto acontecer e o momento de intervir.
Obrigada, obrigada, obrigada!
Agradeço à Ana Paula Caldas, neonatologista a quem admiro
imensamente, por receber nosso filho com tanto carinho e respeito. Obrigada
pelo que tem feito a essa criançada linda que tem chegado ao mundo.
Agradeço à Kelly, doulógrafa, por registrar esse dia tão
importante e pelo apoio e cuidado durante o trabalho de parto.
Agradeço à Vivi, do Além d’Olhar, por mesmo estando tão
longe no dia P ter mandado mensagens de incentivo.
Agradeço às mulheres grandiosas do Samaúma e do GPC por cada troca de experiências.
Agradeço a meu filho Samuel por me ensinar tanto desde o seu
nascimento, por me permitir errar e acertar enquanto mãe, e principalmente por
me apresentar ao amor mais puro, singelo e genuíno que se pode sentir. Amo
você, meu filho. Incondicionalmente.